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A formação do público do futebol no Brasil não é uma decorrência natural da assimilação deste esporte no país. Ela depende da consolidação dos processos que levaram à transformação do futebol em espetáculo de massas e em paixão nacional, ou seja, do surgimento do futebol como fenômeno econômico e cultural de ‘grande escala’ - momento a partir do qual este esporte deixa de ser uma atividade ociosa exclusiva de uma porção das elites urbanas. Agentes dessa transformação foram o Estado, os clubes, os atletas e de modo muito especial a imprensa, promotora da constituição de um público do futebol específico: robusto e ‘militante’. O surgimento, no final dos anos 60, das torcidas organizadas1 corresponde à versão exacerbada do que o jornalismo esportivo sempre destacou e, quando ausente, demandou com veemência: festa, colorido, alegria, compromisso, paixão. No entanto, também corresponde, não raras vezes, àquilo que a imprensa sempre condenou, mas nem por isso deixou de noticiar: a violência. As torcidas organizadas consolidam um processo em que a relação espetáculo-espetador redefine-se. Daí que pensarmos o espectador de futebol exclusivamente através da categoria público e/ou da categoria consumidor é insuficiente. A primeira, ao restringir o fato de torcer a um ato de contemplação, não dá conta da mudança efetuada na relação espetáculo-espectador. A segunda categoria, ao reduzir o espectador a mero consumidor e a relação espectador-espetáculo a uma troca econômica, tampouco consegue dar conta da referida mudança. Partindo deste conjunto de teses procura-se identificar o modo como um meio de comunicação deu visibilidade ao fenômeno, ou, em outras palavras, o modo como o tornou público ao lhe conferir o status de notícia, isto é, de mercadoria informativa. Dentro desta tentativa aparece uma outra: a de reconhecer a construção simbólica das torcidas organizadas feita pela mídia, rastreando as representações e significados que lhe são atribuídas. Presas a posturas populistas e/ou espetacularizadoras, descobre-se que as representações variam toda vez que vem à tona assuntos que põem em risco a manutenção do futebol como espetáculo de massas ao vivo e como expressão e fonte de identidade nacional: a própria violência nos estádios, mas também temas a adoção do modelo do futebol-empresa.

Aguilera Toro, C. (2011). Quando o espectador vira espetáculo: o futebol como campo de lutas simbólicas. Nexus, (5). https://doi.org/10.25100/nc.v0i5.846